domingo, 30 de dezembro de 2012

As minorias cristãs no mundo árabe


Em março de 1996, sete monges franceses da Ordem de Cister são raptados do mosteiro de Tibirine, 90 quilómetros a sul da capital da Argélia. Dois meses depois, os seus corpos, decapitados, são encontrados numa montanha.

http://sicnoticias.sapo.pt/programas/sociedadedasnacoes/2012/12/28/as-minorias-cristas-no-mundo-arabe

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Pan-arabismo

"L'idéal du panarabisme ne me concerne pas. Ça ne tient pas debout pour moi. Il ya des peuples de langue arabe : il ya un peuple syrien, un peuple palestinien, un peuple libyen. Je m'oppose à l'idéologie qui utilise des termes flous, parce que je trouve qu'elle est fausse scientifiquement et très dangereuse. C'est elle qui nous a fait rater l'Afrique, par exemple. Voilà pourquoi nous, Nord-Africains, nous tournons le dos à l'Afrique : parce que l'arabo-islamisme nous masque l'Afrique d'abord. Nous sommes Africains, oui, c'est une notion vraie, géographiquement vraie et historiquement vraie... Si on voyait les choses à l'échelle africaine, on pourrait comprendre maintenant l'importance de l'Afrique du Sud pour nous. On pourrait en ce moment avoir une plus grande solidarité avec les peuples africains pour faire tomber les barrières." 

Kateb Yacine
La Presse, 24 de Dezembro, 1986

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Promessas religiosas

Edgar Morin e Cornelius Castoriadis

Cornelius Castoriadis: (...) Existiram  lutas multisseculares para conseguir separar o religioso do divino. Um movimento deste tipo nunca aconteceu no Islão. Este tem perante si um Ocidente que já só vive enquanto devora a sua herança e que preserva o satu quo liberal mas já não inventa significados emancipatórios  Aos Árabes diz-se mais ou menos isto: «deitem fora o Corão e comprem videoclips de Madonna» enquanto, ao mesmo tempo, lhes vendemos a crédito aviões Mirage. Se existe uma «responsabilidade» histórica do Ocidente a este respeito reside aí. O vazio de sentido das nossas sociedades no coração das democracias modernas não pode ser preenchido pela acumulação de «gadgets». Não pode deslocar as significações religiosas que mantêm aquelas sociedades coesas. É aí que se encontra a pesada perspectiva do futuro. (...)"

Edgar Morin: (...) É verdade que deparamos, à primeira vista, com massas magrebinas em fúria, julgando que um subjugador é um libertador [Saddam Hussein]. Mas isso não é uma característica árabe ou islâmica: também nós protagonizámos, mais que não fosse através da nossa idolatria para com Estaline ou Mao, que não é assim tão antiga. Conhecemos as histerias religiosas, nacionalistas, messiânicas. (...) Neste estado de coisas, talvez provisório, acreditamos que as paixões e os fanatismos são próprios dos Árabes. A um nível mais profundo podemos lastimar que a democracia não consiga implantar-se fora da Europa ocidental. Mas basta pensar em Espanha, na Grécia, na Alemanha nazi de ontem e na própria França para compreender que a democracia é um sistema difícil de se enraizar. Alimenta-se de diversidades e conflitos enquanto for capaz de regulá-los e de torná-los produtivos, mas também pôde ser precisamente destruída por eles. Não pôde implantar-se no mundo árabe-islâmico porque, primeiramente, este não pôde realizar o estado histórico da laicização que - do século VIII ao século XIII - germinava sem dúvida dentro de si, mas que o Ocidente pôde, por seu lado, encetar a partir do século XVI. Só a laicização, que é o recuo da religião em relação ao Estado e à vida pública, permite a democratização. Mesmo nos países árabe-islâmicos onde existiram poderosos movimentos de laicização, a democracia parecia uma solução fraca quando comparada com a revolução, a qual permitia simultaneamente a emancipação em relação ao Ocidente dominador. Ora, tanto as promessas da revolução nacionalista como a da revolução comunista eram promessas religiosas, uma trazendo a religião do Estado-Nação, a outra a da salvação terrestre. (...)

Cornelius Castoriadis: Parece-me claro que a situação mundial é intolerável e insuportável, que o ocidente não dispõe nem dos meios nem da vontade para modificá-la  no que é essencial e que o movimento de emancipação se encontra encravado. (...) Um parêntesis para dizer que sabemos que durante todo um período os Árabes foram mais civilizados do que os Ocidentais. Depois eclipsaram-se. O que captaram da herança da Antiguidade nunca foi porém de natureza política; a problemática política dos Gregos, fundamental para a democracia, não fecundou entre os filósofos e as sociedades árabes. As comunas europeias arrancaram as suas liberdades, a nível mundial, no final do século X. Não se trata de «julgar» os Árabes mas de constatar que o ocidente precisou de dez séculos para conseguir, com maior ou menor sucesso, libertar a sociedade política do domínio religiosos. (...)

Discussão entre Cornelius Castoriadis e Edgar Morin, publicada no Le Monde, 19 de Março de 1991, in. A ascensão da insignificância, de Cornelius Castoriadis, Editorial Bizâncio (2012), pp. 57-64.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

"L'urgente nécessité de filmer un pays merveilleux..."



Kateb Yacine em 1989 na apresentação do filme "Kateb Yacine: l'amour et la révolution" de  Kamel Dehane.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Homenagem a Kateb Yacine


No âmbito da 5ª Edição do Festival La Roseraie des Cultures em L'Haÿ-les-Roses, França. Com as participações de Yahia Belaskri,  Anouar Benmalek, Jean-Pierre Han e Alain Mabanckou.

sábado, 10 de novembro de 2012

Parce que c'est une femme de Kateb Yacine


Encenação de Melinda Heeger e Marwanne El Boubsi. Música de Karine Germaix

domingo, 28 de outubro de 2012

FMA homenageia Kateb Yacine nos 23 anos da sua morte


Kateb Yacine será homenageado na 13ª. edição do Festival do Mundo Árabe de Monte Real. Mais informações aqui.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Isto já não é mais um país

"À asfixia de todo um povo, sofrimento e vergonha, junta-se a tragédia de todos e de cada um, isto já não é mais um país, é um orfanato."

Kateb Yacine

The denial of the African person’s humanity.

Antoine Roger Lokongo

"(...) why is Africa so important to France? [Xavier] Renou suggests three reasons: (1) Maintaining an international status independent of American and Chinese influences (the Soviet Union yesterday); (2) Securing a permanent access to strategic resources; (3) Benefiting from a monopolistic situation. To attain these objectives and maintain its power over its former colonies, France has to pursue a global policy that would be economic, political and cultural (Renou 2002). It is our firm belief that, in the 21st century, Africa does not need all these remnants frameworks of colonialism, call it Commonwealth, Francophonie, Lusophonie, and so on. (...) Having said that, we agree with Algerian writer Kateb Yacine who wrote that ‘La Francophonie is a neo-colonial political machine, which only perpetuates our alienation, but the usage of the French language does not mean that one is an agent of a foreign power; and I write in French to tell the French that I am not French’ (Djaout 1987, 9). Colonisation was not jut a ‘historical mistake’ as President François Hollande said in Dakar before heading to Kinshasa. It was the very denial of the African person’s humanity. (...)"

Antoine Roger Lokongo

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Heritage


"As Kateb [Yacine] said in a conference at the University of Algiers in 1967, Nedjma is a symbol for Algeria. Her complicated parentage represents Algeria's rich heritage (...) The four friends' obsession with Nedjma and their rivalry symbolize Algerians' love for their country, their conflicts, and their struggle to define themselves and to envision a future nation."

Abdelkader Aoudjit
The Algerian Novel and Colonial Discourse,
Francophone Cultures and Literatures (2010) p. 22

No 23º aniversário da sua morte


O Ministério da Cultura argelino e a Maison de la Culture Mouloud Mammeri organizam no próximo dia 29 em Tizi-Ouzou na Argélia, um simpósio dedicado a Kateb Yacine no 23º aniversário da sua morte. 
"La configuration de l'amour de la Patrie dans l'œuvre de Nedjma" inclui conferências, exposições e leituras da obra de Kateb Yacine e participam, entre outros, Lakroun Mahfoud, Boukhelou Malika, Benachour Bouziane,Yamilé Ghobalou, Betouche Aini e Said Chemakh.


Tudo aqui.

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Já a 4ª Edição do Colóquio Internacional sobre a vida e a obra de Kateb Yacine, (marcada para  o início de Novembro em Guelma, na Argélia) foi adiada por falta de verbas e em sinal de protesto contra as políticas culturais do governo da Algéria.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Boucherie de l'Espérance de Kateb Yacine


Encenação de François Fehner e Nathalie Hauwelle, de 20 a 27 de Outubro, no espaço La Grainerie em Balma, França. Mais informações aqui.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Une œuvre magistrale

"Quand on parle de Kateb Yacine, c’est toujours en tant que romancier et notamment en rapport avec Nedjma. Or Kateb Yacine est une dimension pluridimensionnelle, pas seulement l’homme du roman. Romancier, poète, Kateb Yacine est aussi dramaturge. Ces trois composantes constituent son œuvre. Mais c’est vers le théâtre que Kateb Yacine s’est tourné. (...)"

Yacine Idjer 
(22/10/2012)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Kateb Yacine no Canadá

Conferência sobre Kateb Yacine dia 5 de Novembro na Place des arts (Montreal, Canadá) com as particiações de Nylda Aktouf, Mouloud Belabdi e Faiza Kadri. Mais informações aqui.

domingo, 7 de outubro de 2012

Bilhete de Identidade

"Eu não sou árabe, no meu bilhete de identidade do mundo irreal, sou mulher, e sem ocupação determinada. Tenho quarenta e quatro anos, pareço jovem e portuguesa de nascimento. Mas tive a rara impressão de que isso e tudo
um dia será erguido na minha mão,
ou seja,
meu círculo
ou silêncio luminoso que restar."

Maria Gabriela Llansol
Uma data em cada mão | Livro das Horas I 
(2009) p.146

sábado, 6 de outubro de 2012

La poétique de Kateb Yacine



Mehana Amrani, (L' Harmattan, 2012), disponível aqui.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Kateb Yacine no Théâtre Dijon Bourgogne

Kateb Yacine

Le poète comme boxeur, mise en scène de Kheireddine Lardjam, dia 24 de Novembro, às 17h00. Mais informações aqui.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Asefru

 
   Pierre Bourdieu
Mouloud Mammeri
Mouloud Mammeria - Uma das designações para a poesia no dialeto cabila é asefru (plural: isefra), que provém de fru, elucidar, esclarecer uma coisa obscura (em outros dialetos berberes é um pouco diferente). Parece-me uma acepção antiga. Em latim, poema é carmen, que significava, se não me engano, o sortilégio, a fórmula eficaz, que abre portas. É o mesmo sentido de asefru e, talvez, essa concordância não seja puramente acidental nesses idiomas mediterrânicos, para os quais o verbo é, de início, um instrumento de elucidação, que torna as coisas permeáveis à nossa razão.

Pierre Bourdieu. – Fru também significa selecionar o grão? Seria o poeta, então, aquele que sabe distinguir, tornar distinto, quem, por seu discernimento, opera uma diacrisis, separa coisas ordinariamente confundidas?

M. M. – O poeta é quem elucida coisas obscuras.

Diálogo sobre a poesia oral na Cabília, 
entrevista de Mouloud Mammeri a Pierre Bourdieu, aqui.

Da cultura berbero-árabe

n. 04 (2006), Sumário

"ARGÉLIA tem como língua oficial o árabe mas outras línguas são igualmente faladas, como o berbere e o francês. O berbere é a língua materna de 25 a 35% da população (num total de 33 milhões de habitantes) e foi reconhecido como língua nacional mas «não oficial» desde 2002, aquando da revisão constitucional. A Argélia, enquanto colónia francesa, sofreu uma guerra de independência — obtida em 1962 com os acordos de Evian — a francização do ensino e o consequente desmantelamento do ensino em árabe. Após a independência, o Estado argelino e igualmente o marroquino optaram por uma política de arabização linguística sob o pretexto de regresso à cultura pré-colonial. Essa política pode parecer paradoxal uma vez que o árabe é apenas uma língua de colonização mais antiga desses países, já que os berberes eram os habitantes originais. É a partir de 1980 que a questão da oficialização do berbere se coloca de modo mais premente e aberto. Durante o período colonial, segundo o modelo de Albert Camus, autor francês inspirado pela sua vivência no Magrebe, e de outros escritores da denominada «Escola de Argel» que reunia jovens talentos, vários escritores de cultura berbero-árabe tentaram exprimir-se em francês, língua da qual receberam uma sólida formação escolar. Com efeito, enquanto colonizados foram afastados do árabe clássico, sendo o francês a língua com prestígio e o único meio de promoção social. Além disso, tendo em conta as elevadas taxas de analfabetismo do Magrebe (cerca de 90% em 1960) os escritores viam-se privados do seu público leitor natural e a única alternativa consistia em escreverem para os europeus, aos quais procuraram mostrar as realidades e problemas argelinos.
Por vezes, isso cria algumas animosidades por parte dos seus compatriotas escritores que vêem aí um sinal de submissão ao colonizador.
Devemos ter bem presente o drama linguístico do colonizado: movimenta-se entre duas línguas que não possuem o mesmo estatuto (sendo a língua materna do colonizado a menos valorizada) e que dão acesso a dois universos em conflito: o do colonizador e o do colonizado. (...)"

Ana Cristina Tavares
Babilónia nº4, (2006) pp. 41-53

domingo, 23 de setembro de 2012

Kateb Yacine, écrivain public

Admiração e destino

"Mon vrai maître est d’ailleurs Kateb Yacine. Il est un destin, une écriture. Pour moi Kateb Yacine est un éblouissement, une découverte. C’était le coup de foudre. Il est une œuvre monumentale. Je suis toujours collé à lui. C’est mon maître. J’étais en admiration devant lui, devant ses écrits. Il a tracé ce sillon dans la littérature. Il est allé au bout de lui-même. Kateb Yacine ne ressemble à personne, et son œuvre est unique."

Rachid Boudjedra
aqui.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Oposições múltiplas

Relação entre as personagens em
Nedjma de Kateb Yacine, por Charles Bonn

Como atravessar a narrativa e entender cada uma das faces do polígono, se, do lado de fora, Nedjma, é o espelho da estrela ao centro?

O diagrama possível

Diagrama da narrativa de Nedjma, por Marc Gontard e Jacqueline Arnaud 

O círculo solar de Nedjma

Nedjma de Kateb Yacine, por Charles Bonn, aqui.



quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Quando havia sangue...

"The day there were ambushes in Algeria, the day there were French casualties, the day there was blood, then the public began to be interested in Algeria. Editors began to hunt automatically for Algerians. Dib and I were published thanks to current events, the ambushes that were going on every day in the pages of France-Soir." 

Kateb Yacine

Kateb Yacine's Journey beyond Algeria and Back


"It is significant that one of the most influential and well-respected writers of the Algerian war generation selects Vietnam as the setting for a play. This choice allows Kateb to reach beyond Algeria. His work prior to L'homme questions and criticizes myriad issues: colonial institutions, social injustice, poverty, government corruption, and hypocrisy. Most of his literary endeavors are set in Algeria, and as Bernard Aresu indicates, Algeria represents a "microcosm of a broader world view" (7). With this play, however, he does not limit the setting to Algeria, his own nation; rather he adopts another country, Vietnam, as the microcosmic land. As an Algerian francophone writer, this alternative allows him to portray abuses of power in other nations beyond Algeria, while emphasizing the significance of Dien Bien Phu and the Vietnamese struggle to the world. This attempt to convey an international critique of injustice is demonstrated in the following ways: First, Kateb states an international political message and chooses a setting outside of Algeria to convey this message. Secondly, to enforce his message he employs thematic and linguistic satire, especially in order to render characters from various nations. At the same time, he draws a clear distinction between those personalities he ridicules and those he respects. Finally, he derives formal inspiration from Vietnamese popular theater. This study will first show examples of these attempts to go beyond Algeria and will then point out how this internationalizing project paradoxically leads to the local theater that makes up the remainder of Kateb's literary career. (...)"

Pamela A. Pears 
Research in African Literatures 
Volume 34, nº3, 2003 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

What is the meaning of memory?


"While to this day, those in power in Algeria obstruct an honest, uncensored processing of the past, Algerian literature repeatedly tries to create a space where collective hurt and the experience of violence can be played out. This is a positive thing.
But there are also disadvantages to the domineering presence of complex thematic backdrop of violence and trauma: it distorts appreciation of other qualities offered by Algerian literature – for example its fascinating, unusual richness of form. As early as 1956, Kateb Yacine, one of the founders of modern Algerian literature, set out his legendary novel "Nedjma" as a complex tale of deliberate confusion. Since then, polyphony, distorted perspectives, intertextual references, and a play on fiction and reality have been hallmarks of Algerian novels. Where does reality end, where does literature begin? What is the meaning of memory? The sheer variety of themes addressed by Algerian literature is also staggering: Habib Tengour's literary grapplings with the issues of exile, identity and cultural globalisation are examples of world literature in every sense. (...)"

Martina Sabra
trad. de Nina Coon,Qantara.de, 2012.

domingo, 9 de setembro de 2012

Solilóquios


"Ouvriers, gens modestes
Pourquoi les gros
Vous étouffent-ils en leur graisse
Malsaine de profiteurs?"

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Une bouffée de bonheur et de prise de conscience collective

Hamma Meliani

Quel a été l’apport de la tournée de Kateb Yacine avec sa pièce Mohamed prend ta valise?

Mohamed prend ta valise !a été une bouffée de bonheur et de prise de conscience collective. C’était vraiment le miroir qui nous jetait à la figure le drame de l’immigration algérienne que Yacine a si bien connu. Et puis les ingrédients du spectacle étaient captivants : chant, musique, narration, dialogues, sketches et intégration du public à l’action nous plongeaient dans la réalité de ces personnages auxquels on s’identifiait. L’apport de cette pièce venue d’Algérie jouée en franco-algérien et de sa diffusion en France a marqué les esprits par sa simplicité et par sa dramaturgie propre au génie créateur de Kateb Yacine. Enfin, on constatait qu’il existait un public sensible à la situation des immigrés et le public des émigrés était aussi nombreux que les Français. Pour tous ceux qui ont vu le spectacle au théâtre des Bouffes du Nord, c’était vraiment un moment de communion vécu entre les artistes et le public. Le théâtre de Kateb Yacine nous a impulsé un nouveau souffle pour notre créativité. Son influence irradiait sur nous tous. A moi, il m’a apporté la rigueur dans la dramaturgie, dans le traitement théâtral judicieux, le sens de la poésie dans l’écriture dramatique. L’apport de Mohamed prend ta valise ! a été considérable auprès du théâtre de l’immigration.

Hamma Meliani
em entrevista aqui.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Le poète comme boxeur, de Kateb Yacine, por Kheireddine Lardjam

Rosário de bombas


“Da sua infância nunca pudera captar mais do que fragmentos cada vez mais pequenos, incoerentes, intensos: raios do paraíso devastado pela deflagração das horas, rosário de bombas retardatárias que o céu mantinha suspensas sobre a alegria sempre clandestina, condenada a refugiar-se nos escaninhos do ser mais frágil, a criança sempre empoleirada no seu respiradouro, sempre curiosa do deslumbramento seguido pela dentada da sombra, o medo de ficar prisioneiro do mundo, enquanto outros universos choviam de dia e noite sobre Rachid, adormecido no berço de madeira de choupo, com as janelinhas para respirar, ou ensaiando os primeiros passos sob os aguaceiros (…).”

Kateb Yacine
Nedjma (Tricontinental Editora, 1987)

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Constantina “A Esmagadora”


"A rocha, a enorme rocha três vezes desventrada pela torrente infatigável que se enterrava em batimentos sonoros, escavando obstinadamente o triplo inferno com a sua força perdida, fora do leito sempre desfeito, sem longevidade suficiente para chegar ao seu sepulcro de blocos derrubados: cemitério destruído onde a torrente nunca viera entregar a alma, reanimada muito mais acima em cascatas inextinguíveis, afundadas em funil, as únicas visíveis das duas pontes lançadas sobre o Kudia, da ravina onde o uede não passava de um ruído de queda repercutido na sucessão de abismos, ruído de águas que nenhuma caldeira ou bacia continha, sussurro surdo sem fim, sem origem, cobrindo o estrondo furioso da máquina cuja velocidade decrescia contudo, atravessando restos de verdura, pradarias ainda interditas ao gado, irradiadas sob a ligeira crosta de gelo, florestas de figueiras nuas e disformes, de alfarrobeiras, de cepas em desuso, de laranjais rectilíneos, destacamentos de romanzeiras, de acácias, de nogueiras, ravinas de nespereiras e de carvalhos até à proximidade do caos brumoso e maciço (...).”

Kateb Yacine
Nedjma (Tricontinental Editora, 1987)

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Homens cujo sangue

"Homens cujo sangue transborda e ameaça arrastar-nos com a sua existência acabada, tal como batéis desamparados, exactamente capazes de flutuar nos locais do afogamento, sem poderem afundar-se com os seus ocupantes; são almas de antepassados que nos ocupam, substituindo o seu drama eternizado pela nossa juvenil esperança, pela nossa paciência de órfãos amarrados à sua sombra cada vez mais pálida, essa sombra que é impossível beber ou desenraizar (...).”

Kateb Yacine
Nedjma (Tricontinental Editora, 1987)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Kateb Yacine et le théâtre de la mer à Alger


"En 1971 le ministère du travail, dont dépendaient les centres de la formation professionnelle, confit au théâtre de la mer, l’animation culturelle pour ses stagiaires. Créé à Oran en 1968, Il monte à Alger en 1970 et siège en définitive dans un ancien centre de formation de jeunes filles à Kouba en face du cimetière chrétien sur le chemin de la cité Jolie-vue où ils sont rejoints par d’autres animateurs.
En 1971 à l’initiative de Ali Zamoum, responsable des centres de formation professionnelle au ministère du travail, le collectif du Théâtre de la mer avait chargé Kaddour Naïmi, Houcine Tanjaouï et Saâdeddine Kouidri à rencontrer Yacine Kateb, qui revenait du Viêt-Nam via le Liban, dans un lycée d’El-Harrach, pour lui confirmer la disponibilité du groupe à un travail commun d’une pièce de théâtre sur l’émigration. Kateb rejoint le groupe, et pour aller vite entame la pièce Mohamed prend ta valise à partir d’un texte tiré de l’homme aux sandales de caoutchouc, par la suite il écrivait le soir ses pages en français et dès le matin dans la salle au premier étage, toute l’équipe se mettaient autour d’une table et participaient à traduire en arabe populaire la scène à interpréter l’après-midi, dans la grande salle du rez-de-chaussée. (...)"

Saâdeddine Kouidri
Mediapart, 5 de Agosto de 2012

sábado, 4 de agosto de 2012

Kateb Yacine por Edgar Davidian


"Textes denses, touffus, véhéments, oscillant entre poésie, réflexion, méditation, note, prose de tous crins et dialogue dramaturgique sont rassemblés ici pour dresser un inventaire exhaustif de l’écriture d’un homme de lettres et d’action qui a su concilier poésie, esprit romanesque et dramaturgie. (...) Beaucoup de poésie libre dans un foisonnement d’images surréalistes (livrée à une cadence et une musicalité toute en intériorité frémissante) sans rimes ni strophes à la métrique rigoureuse, de la prose échevelée, torrentielle et nourrie d’une sève révoltée, des dialogues qui ramènent à Eschyle, Brecht et Rimbaud, mêlant monologues et chœurs, légende et histoire, chronique et mythe, rêve et méditation, constats amers et virulentes dénonciations. Le tout, dans une langue française à la richesse éblouissante, sans voile ni frein, pour raconter le drame de la colonisation et de l’aliénation. Un acte d’écriture certes, mais surtout un acte de bravoure qui lui vaudra la méfiance des systèmes des valeurs bourgeoises et des gouvernements dominateurs aux chars meurtriers, à la mitraille aveugle et au cœur de silex.
Avec ce printemps arabe, souffle de jasmin et de poudre de canon, les mots de Kateb Yacine, dialogue de l’homme avec lui-même et sentiment du tragique de toute liberté bafouée, arrachés à l’oubli, perdus dans le passé et (heureusement) aujourd’hui retrouvés et tirés de l’ombre, s’insèrent et s’inscrivent parfaitement, et avec éclat, dans le houleux clivage du monde arabe actuel. De toute évidence, il y a des héritages inaliénables qu’on ne doit jamais céder au hasard.

Edgar Davidian
"Kateb Yacine, chantre prémonitoire de la révolution du Jasmin",
L'Orient Littéraire nº. 74, Agosto de 2012

terça-feira, 31 de julho de 2012

"Só existe o crime para assassinar a injustiça?"

Kateb Yacine

segunda-feira, 30 de julho de 2012

La Femme Sauvage


Encenação de
Jean-Marie Serreau
Cenário de André Acquart
e música de Gilbert Amy.
(1963)

"Certains le disent, d'autres l'ignorent"


"La question des femmes algériennes dans l’histoire m’a toujours frappé. Depuis mon plus jeune âge, elle m’a semblé primordiale. Tout ce que j’ai vécu, tout ce que j’ai fait jusqu’à présent a toujours eu pour source première ma mère. C'est ma mère qui a fai de moi ce que je sair. Je crois que c'est vrai pour de moi pour la plupart des hommes. Certains le disent, d'autres l'ignorent, mais s'agissant notamment de la langue, s'agissant de l'éveil d'une conscience, c'est la mère qui fai prononcer les primiers mots à l'enfant, c'est elle qui construit son monde."
Kateb Yacine

sexta-feira, 27 de julho de 2012

"Henri Alleg, l'homme de La Question"


Henri Alleg escreveu "La Question" em plena Guerra da Argélia denunciando as torturas a que fora submetido por pára-quedistas franceses em 1957 em El-Biar, nos arredores de Argel. Apesar de censurado, o livro circulou clandestinamente. Regressou em 2009 através da câmara de Christophe Kantcheff, sob o olhar desconfiado de alguma imprensa francesa. Henri Alleg foi editor do Alger Républicain, jornal com o qual Kateb Yacine colaborou entre 1948 e 1964.

Kateb Yacine, Henri Alleg e Boualem Khalfa. 1977 

"Aquele ‘centro de triagem’ não era apenas um lugar de torturas para os argelinos, mas uma escola de perversão para os jovens franceses.” 

Henri Alleg

quinta-feira, 26 de julho de 2012

"Partisans", nº. 3, Fevereiro de 1962


Revista editada por François Maspero entre 1961 e 1973, fortemente influenciada pela revolução cubana e crítica do colonialismo francês. Colaboraram, entre outros: Kateb Yacine (no 3º. número com o artigo: "Le bain des maudits", p. 78-82.), Georges Pérec, Frantz Fanon (na fotografia), Maurice Maschino e Ali Salim. Veja os restantes números da revista aqui.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Antologia de Poesia Argelina

"Quand la nuit se brise"
organização de Abdelmadjid Kaouh,
(Editions Points, 2012)

Poemas de Kateb Yacine, Bachir Hadj Ali, Malek Haddad, Assia Djebar, Anna Gréki, Mourad Bourboune, Myriam Ben, Malek Aloula, Tahar Djaout, Youcef Sebti, Hamid Skif, entre muitos outros.

"En Algérie, on voit l'Occident à travers la France"


"Les Algériens, comme leur régime, voient la France partout en Europe et toute l’Europe est la France. L’imago mundi est aussi une affaire de traumatisme de l’Histoire et de reliquat de guerres et de paix. A coté de cette France gigantesque, il y a des îlots. (...) A une certaine époque, la télé du régime en importait en vrac et les Algériens les dévoraient avec passion. (...)"

Kamel Daoud

terça-feira, 24 de julho de 2012

Notará que o abraço enquanto dorme?

"O pai dorme. (...) Gostaria de o abraçar enquanto dorme, tranquilamente, sem as raparigas me verem. (...) O pai volta-se para o lado esquerdo. Continua a dormir! O pé de um pai diz muito acerca do passado; a deformação de uma unha fala uma linguagem de campanha militar; se o meu pai fosse árabe, teria sido sargento; é verdade, estou no conjuntivo; um excelente aluno, é o que eu sou. (...) O pai sente-se obrigado a dormir para o lado esquerdo. (...) Notará que o abraço enquanto dorme, sempre do lado esquerdo, do lado do bolsinho do colete, onde estão os trocos? O dinheiro não lhe diz nada. (...) O pai dorme. Ressona. Passa pelas brasas. Não está morto. Não há como ele. Para mim nunca levantou a bengala. Só uma vez. (...) Uma só bengala. Mal me tocou. Comecei a chorar."

Kateb Yacine
Nedjma (Tricontinental Editora, 1987)

Mohamed, Carry Your Suitcase


"If the open warfare against French rule ended in 1962, when Algerians gained independence, Yacine's efforts were not always appreciated. Like most intellectuals who inspire politicians, Yacine wanted ordinary men and women to be free, without falling under the dictates of power. Nedjma glorified Algeria but in a critical 1971 play, written and produced in Arabic, Mohamed, Carry Your Suitcase, the author portrayed the class complicity that existed between French and Algerian bourgeoisies. What increasingly irked Algerian revolutionaries was the writer's direct prose that reached millions. The revolutionary writer, he once remarked, "must transmit a living message, placing the public at the heart of a theatre that partakes of the never-ending combat opposing the proletariat to the bourgeoisie". Even for revolutionary Algeria, this was way too critical, as authorities became wary of their "hero". (...)"

Joseph A. Kechichian
"A writer who inspired revolution"
Weekend Review, 14 de Maio de 2012

segunda-feira, 23 de julho de 2012

"Cartas do meu Magrebe", de Ernesto de Sousa


A viagem de Ernesto de Sousa pelo Magrebe no princípio dos anos 60, teve como ponto alto a sua passagem pela Argélia nas vésperas da independência. É em plena revolução e luta sangrenta pela liberdade, que o criador de Dom Roberto consegue para o JN uma entrevista com o chefe militar e futuro Presidente da República, Houari Boumédiènne. É também nesta altura que Manuel Pacheco de Miranda, director do JN, comunica a  Ernesto de Sousa a necessidade de pôr fim às crónicas que vinha escrevendo pois o jornal não poderia continuar a dar notícias acerca de um país que era contra a soberania portuguesa nas "Províncias Ultramarinas". A curiosidade de Ernesto de Sousa pela cultura do Magrebe e pela luta anticolonial da Argélia não era oportuna à censura de Salazar e só agora, 50 anos depois, se publicam as crónicas de um dos mais interessantes olhares em Portugal sobre a herança cultural do Norte de África. Afinal, os tais Berberes, como há dias afirmou o arqueólogo Cláudio Torres, "ocupavam todo o sul da Península Ibérica. Era a mesma cultura, era a mesma língua, o mesmo espaço, a mesma habitação. (…) Todo este mundo fez parte de um mundo comum. (…) E a gente agora deprecia-os, esquece-os, não percebe que pertencem à nossa estrutura cultural.”

No prefácio à obra sobre a viagem de Ernesto de Sousa pelo Magrebe Isabel do Carmo explica:

"O Zé Ernesto tomou a decisão de partir à aventura para o Norte de África para fazer reportagem. Fazia‑o sem meios e apenas apoiado num compromisso do Jornal de Notícias para publicação e pagamento posterior das crónicas que de lá mandaria. Essa viagem foi um impulso e um grande entusiasmo, que com ele partilhei.
Baseava‑se sobretudo na descoberta pessoal da importância da cultura do Norte de África na nossa própria cultura e na solidariedade com o movimento de independência da Argélia, fosse ele o dos próprios argelinos, fosse o dos franceses de esquerda na sua luta anticolonial. (...) O Zé Ernesto e eu acompanhávamos avidamente as informações sobre a guerra na Argélia e a solidariedade francesa. Lemos La Question, de Henri Alleg, denúncia na primeira pessoa das práticas da tortura infligidas pelos franceses sobre um francês. Lemos Djamila Boupacha, livro escrito por Gisèle Halimi, advogada de Djamila e que viria a ser uma das líderes do Mouvement de Libération des Femmes, mãe de Serge Halimi, hoje director do Le Monde Diplomatique. Seguíamos o teatro de Kateb Yacine, argelino de cultura francesa. (...) O Zé Ernesto atribuiu‑se a si próprio a missão de mensageiro desta realidade e da empolgante luta dos argelinos. E foi assim que conseguiu que a direcção do Jornal de Notícias se comprometesse a pagar‑lhe as crónicas que ia enviando de um Magrebe que incluiria Marrocos, Argélia e Tunísia. Procurámos pequenas somas de dinheiro, pequenos empréstimos, não sei se chegámos a vender algum objecto para arranjar dinheiro para a viagem. O pagamento das crónicas daria o retorno. Levaram tempo a começar a ser publicadas.
E por fim caiu o cutelo sobre a liberdade. Da Argélia apenas foram publicadas as crónicas que falam de Tlemcen e de Orão. Depois acabou."

Prefácio de Isabel do Carmo, fotografia de Ernesto de Sousa e coordenação de Carlos Vaz Marques. Edições Tinta da China, 2011.

Colonial lessons

domingo, 22 de julho de 2012

As palavras ardem sob as cinzas

"Se a primavera árabe foi uma farsa que possibilitou massacres inúteis, já que Ben Ali, o ditador da Tunísia onde tudo começou está exilado em algum harém saudita, Khadafi foi esfolado vivo e arrastado no abrasante cascalho do deserto líbio e do país hoje ninguém mais sabe, os monarcas marroquinos estão com as barbas de molho, a Argélia, calejada pelas enfumades do tempo da colonização selvagem e predatória que a França lhe impôs, se recolhe nos altiplanos das montanhas Cabila, os egípcios engaiolaram o amaldiçoado Mubarak, morre-não-morre, (nem seu suposto pai Akénathon o quer por aquelas paragens do além), mas a situação dos coptas continua indefinida e a etnia oprimida, enfim, diante destes fatos o que dizer do destino da Síria e de seu jovem ditador Bashar al-Assad nascido na fatídica data ocidental de 11 de setembro de 1965?... (...) É raro ouvirmos notícias do mundo literário árabe, sobretudo o mundo das letras sírias. A língua é uma barreira que os escritores do Magrebe transpuseram ao adotar o francês como um tipo de butim de guerra, segundo a excelente expressão argelina. Porém, o mundo sírio e sua literatura hoje freme... As bombas e o crescente avanço da violência têm sido mais expressivos que a palavra poética, mas as brasas ardem sob as cinzas. (...)"

Grupo Literatura Magrebina Francófona

terça-feira, 17 de julho de 2012

Banha-te, Nedjma...

"Os corpos das mulheres desejadas, como os despojos das víboras e os perfumes voláteis, não são feitos para perecer, apodrecer e evaporar-se na nossa atmosfera: frascos, redomas e banheiras; é aí que devem durar as flores, cintilar as escamas e as mulheres expandir-se, longe do ar e do tempo, tal como um continente submerso ou um destroço que se atira para o fundo do mar, para aí descobrir mais tarde, em caso de sobrevivência, um derradeiro tesouro. E quem não encarou a sua amante, quem não sonhou com a mulher capaz de o esperar nalguma banheira ideal, inconsciente e sem adornos, para a recolher sem desonra após a tormenta e o exílio? Banha-te, Nedjma, prometo-te não ceder à tristeza quando o teu encanto se dissolver, pois não há nenhum atributo da tua beleza que não me tenha tornado a água cem vezes mais cara; não é a fantasia que me faz sentir este imenso afecto por um caldeirão. Amo cegamente o objecto sem memória em que se disputam os últimos manes dos meus amores. Praza aos céus que saias lavada da tinta cinzenta que só a minha natureza de lagarto imprime injustamente na tua pele!"

Kateb Yacine
Nedjma (Tricontinental Editora, 1987)

Algéria: O nascimento de uma Nação

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Rédea solta

Juan Goytisolo
"O empenho de um escritor de génio como Kateb Yacine, em promover a língua materna a fim de dar rédea solta, através de espectáculos teatrais em dialecto, às vivências quotidianas do povo e aos sentimentos normalmente proscritos pela «langue de bois» utilizada, desbravou o caminho para as obras satíricas de Sliman Benaisa e a feliz adaptação da oralidade da «halca» do recém-assassinado director Abdelkader Alicha, natural de Oran. No entanto, a força do «darixa», ou o árabe comum a milhões de argelinos não berberes, embate, por sua vez, não obstante as suas potencialidades enriquecedoras, com o elitismo dos francófonos e com a vontade normalizadora dos islamistas. (...)"

Juan Goytisolo
El  País (Abril de 1994)
[Tradução de Maria João Reis]

terça-feira, 10 de julho de 2012

Velhos fantasmas

"(...) A guerra da Argélia mudou a França e colocou-a, a partir de então, sob uma herança histórica muito particular. Pode dizer-se que, durante muitos anos, houve por aqui como que um esforço, nunca abertamente assumido, de afastar o país desse tempo, talvez numa consciência subliminar de que a sua evocação arriscaria acordar velhos fantasmas. Curiosamente, terá sido o agravamento das tensões político-religiosas dentro da própria Argélia, a partir dos anos 90, que provocou, na França, o início de um surto de reflexão sobre aquela que foi a mais traumática das independências dos territórios sob sua administração. Dezenas de livros e muitos filmes passaram a trazer a um melhor conhecimento pelas novas gerações desse período convulso. Ouvindo testemunhos do período de confrontação, de ambos os lados do Mediterrâneo, fica uma clara sensação de que ainda há feridas bem abertas que, quem sabe?, talvez só possam ter a ganhar com este exorcismo de memória. É que a vida também prova que meter o passado sob o tapete só aumenta o risco de, um dia, nele tropeçarmos."

Francisco Seixas da Costa
Embaixador português em França, aqui.

50 anos depois: os franco-argelinos ainda se ressentem

quinta-feira, 5 de julho de 2012

No cinquentenário da independência da Argélia

Realiza-se hoje na Universidade de Brasília o seminário de Celebração do Cinquentenário da Independência da Argélia, promovido pelo Grupo de Estudos Literários Magrebinos Francófonos do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da UNB. Cláudia Falluh Balduino Ferreira apresenta a comunicação: "Dois escritores argelinos: Mohamed Dib e Yacine Kateb". O seminário tem início marcado para as 9h30. Mais informações aqui.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Guerra da Argélia no Army Museum de Paris

Como um fuso

"Cai-se no alcoolismo, e fazem-se filhos franzinos. Eu cá, ao nascer, era obeso, os turistas tomavam-me nos braços. Não parece um bebe árabe! Que bonito! Mas não tardei a ficar como a minha mãe, magro, magro como um fuso; serve-me para as zaragatas."

Kateb Yacine
Nedjma
(Tricontinental Editora, 1987)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Um mundo comum

“Os tais berberes que nós hoje arrumamos ali algures no Norte de África (...) ocupavam todo (...) o sul da Península Ibérica. Era a mesma cultura, era a mesma língua, o mesmo espaço, a mesma habitação. (…) Todo este mundo fez parte de um mundo comum. (…) E a gente agora deprecia-os, esquece-os, não percebe que pertencem à nossa estrutura cultural.”

Cláudio Torres
[Ouvido hoje na SIC, nos 25 anos do Prémio Pessoa]

Notícia da morte de Kateb Yacine

Diário de Lisboa, 2 de Novembro de 1989

terça-feira, 15 de maio de 2012

Dazzling language

"[Kateb Yacine] can be considered principally as a poet who only uses novelistic and dramatic forms in order to destroy them. This confusion of literary genres is naturally, in this case, a terrorist technique that smashes the characteristic structure of the novel and which creates a dazzling language that blazes in all directions."

Abdelkébir Khatibi

Une ruine et un chatier

"Je crois bien, en effet, que je suis l'homme d'un seul livre. A l'origine, c'est un poème qui s'est transformé en romans et en pièces de théâtre, mais c'est toujours la même œuvre que je laisserai certainement comme je l'ai commencée, c'est-à-dire à la fois une ruine et un chatier."

Kateb Yacine
Em entrevista ao Jeune Afrique, 26 de Março de 1967.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Poète et militant

"en moi, le poète combat le militant et le militant combat le poète."

Kateb Yacine

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Mais uma vítima da guerra

CORIFEU - Em todas as grandes cidades há açores engaiolados com as tribos.

ALI - Sim, os velhos coxos ou os seus filhos nascidos na gaiola. Uma triste minoria. Ainda não há muito tempo, a minha mãe ofereceu-me um açorzinho amarrado à pata. Tinha bastante campo de manobra. Quando um dia eu tentava amarrá-lo a uma árvore fez uma tal algazarra e foi tão esperto que, se eu não largasse a corda, ele morria estrangulado. Depois, tive que o libertar completamente porque onde estava não chegava à água (...) e a fúria durou-lhe todo o dia. Parava um instante, desfalecido, indignado, espantado como num pesadelo e quase imediatamente retomava a sua magnífica revolta. "Vai morrer, dizia a minha mãe, não vai comer à gamela." Evidentemente, libertei o pássaro e vi-o desaparecer no crepúsculo, não sem pena... (...) Qual não foi o meu espanto, no dia seguinte e nos outros, ao vê-lo às voltas nas paragens. A sua presença obstinada parecia convidar-me a partir em viagem. (...) Um dia dei-me conta que tinha deixado a minha mãe. De resto, ela vivia à lua, andava na magia. (...) Chegado à fronteira quis saber que país era aquele em que ia entrar pela primeira vez. "É o império do Magreb" responderam-me. Ainda nem barba tinha, deixaram-me entrar. "Mais uma vítima da guerra" diziam os funcionários e os soldados..."

Kateb Yacine
Tradução de Luís Varela e Christine Zurbach.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Rachid Boudjedra sobre Kateb Yacine

"Kateb Yacine est le plus grand écrivain algérien (...) J’aurais tant voulu écrire un roman comme Nedjma mais je ne peux pas."

Rachid Boudjedra
(L'Expression, 2010)
 aqui.

"Kateb Yacine ou l'Algérie rêvée", por Kaoutar Harchi

Qantara, nº 83 (Abril de 2012)

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Homenagem a Kateb Yacine

Homenagem a Kateb Yacine, nos 50 anos do fim da Guerra da Argélia (1954-1962), dias 27 e 28 de Abril em Roubaix (França).

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A Boca do Lobo, 17 de Outubro de 1961

Povo francês, tu viste tudo
Sim, tudo com os teus olhos.
Viste o nosso sangue correr
Viste a polícia
Espancar os manifestantes
E atirá-los ao Sena.
O rio Sena rubescente
Não parou nos dias seguintes
De vomitar no rosto
Do povo da Comuna
Esses corpos martirizados
Que lembravam aos Parisienses
As suas próprias revoluções
A sua própria resistência.
Povo francês, tu viste tudo
Sim, tudo com os teus olhos,
E agora vais falar?
E agora vais calar-te?


Kateb Yacine
Tradução de Luís Varela

domingo, 22 de abril de 2012

Como governar o burro?

"Nada abala a espessa cólera do oprimido; ele não conta os anos; não distingue os homens, nem os caminhos; o que o leva ao rio, ao repouso, à morte. Como governar o burro? Está destinado às coisas correntes. Mantêm-se neutro e malévolo; não segue o guia; neutraliza-o, comunica-lhe a sua magnanimidade de escravo."

Kateb Yacine
Nedjma
(Tricontinental Editora, 1987)

Le poète comme un boxeur

"O verdadeiro poeta (...) deve mostrar o seu desacordo. Senão se exprime na plenitude, engasga-se. Esta é a sua função. Fazer a revolução no interior da revolução política. Ele é, na perturbação, o perturbador eterno.(...) O poeta é a revolução em estado nú, o próprio movimento da vida."

Kateb Yacine
Le poète comme un boxeur (1994) 
trad. por aqf

sábado, 21 de abril de 2012

Efusões de locomotiva

"O expresso Constantina-Bona tem o sobressalto do centauro, o soluço da sereia, a graça ofegante da máquina com a energia no limite, rastejando e contorcendo-se no joelho da cidade sempre fugidia na sua lascívia, tardando a desfalecer, agarrada pelos cabelos e confundida na ascensão solar, para acolher do alto estas efusões de locomotiva; as carruagens largam passageiros que, quais bichos indecisos depressa devolvidos ao estado de alerta, dormitam; nenhum levanta a cabeça diante do Deus dos pagãos chegado ao seu quotidiano poder. Meio-dia, reflexão de África com falta de sombra inacessível nudez de continente comedor de impérios, planície repleta de vinho e de tabaco; o meio-dia adormece tanto como um templo, submerge o viajante; meio-dia! acrescenta o relógio, na sua opulência sacerdotal, e a hora parece atrasada com a máquina sob a ventilação das palmeiras, e o comboio depressa perde os seus encantos (...)"

Kateb Yacine
Nedjma
(Tricontinental Editora, 1987)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Liberdades com o tempo

"(...) Nedjma foi publicado em plena guerra da Argélia e os leitores franceses não estavam suficientemente preparados para entrar no universo de Kateb Yacine, que era um poeta magnífico e que espantou toda a gente com este romance."

Tahar Ben Jelloun
em entrevista a Carlos Vaz Marques
DNA, 18 de Novembro de 2005

"O Pó da Inteligência" encenação de Luís Varela (1977)

Entre a adesão e a liberdade

"O contacto com escritores e críticos de uma Argélia ainda subsidiária da cultura colonial, mas vivendo a hora do anti-colonialismo militante, foi para mim muito elucidativa: lembro-me por exemplo, do poeta francês Jean Sénac, ou de tantos como ele, desgarrados entre a sua adesão à causa da independência e a liberdade que lhes começava a ser coartada pelos novos senhores no poder. A tal ponto que alguns se tornaram exilados do interior, enquanto outros, mesmo argelinos, como Kateb Yacine, tiveram de desterrar-se, à letra, por não aceitarem vergar-se às injunções ideológicas dominantes."

José Augusto Seabra
Antologia Pessoal vol. IV (2001) p.25

28 de Outubro de 1989

"In that same period, early in March 1989, Kateb Yacine discovers that he his ill. He is in France, he left Paris where he had received the major French prize the year before. His youngest son, [Amazigh Kateb] an adolescent, is with him. He no longer enjoys spending time in Paris: his friend and hostes, the most warmly devoted Jacqueline Arnaud had died the previous winter, practically collapsing in the poet's arms as she served him tea. Yacine plans to settle in Provence to write which amounts to his turning his back on the Algerian land. (...) The 1st of November '89 came: early morning, Ali Zaamound rushed off to the Algiers airport. A special plane, sent by the Algerian authorities, was bringing the body of its greatest poet home. Kateb Yacine had died on the 28th of October in Grenoble of leukemia, which had conquered him in just six months.
Strange coincidence, a first cousin of Yacine's, Mustapha Kateb (who had been the inspiration for one of the heroes of Nedjma and who was a first rate theater organizer of a sort of theater worlds apart from the work of Yacine) had died on the 29th of October in a hospital in Marseilles. So the charter was bringing back the two bodies, cousins who hadn't spoken in years. On this final journey home, a woman in mourning had traveled with the bodies: another cousin, one whose beauty and aura, as a young girl, had been the muse for Kateb Yacine's heroine, the very real Nedjma whom the poet had loved as an adolescent, his first love from which he had never truly recovered (...)."

Assia Djebar
Algerian White (1995) pp.148-149.