"Banha-te, Nedjma, prometo-te não ceder à tristeza quando o teu encanto se dissolver pois não há nenhum atributo da tua beleza que não me tenha tornado a água cem vezes mais cara; não é a fantasia que me faz sentir este imenso afecto por um caldeirão. Amo cegamente o objecto sem memória em que se disputam os últimos manes dos meus amores."
domingo, 30 de junho de 2013
Mustapha Kateb e Rouiched | 21 de Junho de 1970 | Orã
sábado, 29 de junho de 2013
À primeira vista
Por Jacqueline Arnaud:
Acabava de
estourar a insurreição no inverno de 1954-1955, depois dos motins marroquinos e
tunisianos que começavam a incendiar a África. Eu e meus amigos acompanhávamos
as notícias nos jornais, participávamos de reuniões e manifestações contra a
guerra. Em nome do que ainda era para mim anti-racismo abstrato, baseado no
anti-colonialismo fundamentado em fatos contados e vividos na Indochina por
pessoas que admirava.
Então, numa
noite desse mesmo inverno, meus amigos me levaram ao Collège Philosophique onde acontecia uma conferência-debate reunindo vários escritores magrebinos: Albert Memmi, Driss Chraïbi, Kateb
Yacine. Este último, desconhecido fora de uma pequena roda, entusiasmado com o
romance que acabava de escrever, Nedjma,
falava alto, especialmente de um típico colono, o personagem Sr. Ricardo, como
sendo vítima do sistema que o fazia explorador, mais inquieto por compreendê-lo
que condená-lo. Escutando Kateb , a gente tinha a sensação de que
nada estava perdido, apesar do começo da guerra, de que tudo poderia se
resolver. Pouco depois, num café, onde alguns amigos se reuniram após o debate,
Kateb continuava a contar sobre o livro, extasiado por seu mundo interior,
pelas criaturas que o possuíam [...] Tive a impressão de que naquele dia um
mundo surgia para mim, cuja estranheza me fascinava. Ele nos mantinha sob seu
charme. Ainda vejo e escuto nitidamente Kateb, a pequena veia batendo nas suas
têmporas, na embriaguez de seu discurso torrencial, se curvando e se sacudindo
de rir:
“Então Si
Mokhtar percorreu as ruas de Constantina com uma mordaça na boca: Vive la France , les Arabes silence.”
Todo absurdo da
guerra da Argélia que apenas começava estava contido nas suas palavras.
Jacqueline Arnaud
La littérature maghrébine de langue
française, 1986 (vol. I, II) –
tradução livre.
domingo, 23 de junho de 2013
A literatura magrebina de língua francesa
Alguns escritores magrebinos foram alfabetizados na língua
francesa desde a tenra idade e, aprendendo a jogar com a língua do colonizador,
transformaram-na em instrumento de luta e reivindicação identitária. Ao se
apropriarem do francês e se expressarem efetivamente nessa língua, não deixaram
de mencionar a cisão psíquica e o mal-estar profundo que essa vivência lhes
causou. Submetidos ao sistema de ensino europeu desde cedo, deparavam-se com o
bilinguismo colonial e suas consequências. Mais de um século
após o início da colonização francesa (1830), sofriam suas influências
irreversíveis e, através de questões existenciais, faziam um balanço por um
viés histórico, psicológico e até mesmo psicanalítico: “ ‘Qui suis-je, moi,
Nord-Africain, colonisé’ dans le monde, parmi les miens, par rapport aux autres? ”[1] Indagação simples, sobre um princípio existencial do homem. No entanto, não obtiveram resposta tão cedo; esta exigiria o nascimento de um novo
Magreb.
[1] " 'Quem sou eu, norte-africano, colonizado' no mundo, entre os meus, em relação aos outros?" (Déjeux, 1980,
p.42).
sábado, 8 de junho de 2013
Literatura argelina
"La littérature algérienne, ce n’est pas Camus."
Kateb Yacine
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