Por Jacqueline Arnaud:
Acabava de
estourar a insurreição no inverno de 1954-1955, depois dos motins marroquinos e
tunisianos que começavam a incendiar a África. Eu e meus amigos acompanhávamos
as notícias nos jornais, participávamos de reuniões e manifestações contra a
guerra. Em nome do que ainda era para mim anti-racismo abstrato, baseado no
anti-colonialismo fundamentado em fatos contados e vividos na Indochina por
pessoas que admirava.
Então, numa
noite desse mesmo inverno, meus amigos me levaram ao Collège Philosophique onde acontecia uma conferência-debate reunindo vários escritores magrebinos: Albert Memmi, Driss Chraïbi, Kateb
Yacine. Este último, desconhecido fora de uma pequena roda, entusiasmado com o
romance que acabava de escrever, Nedjma,
falava alto, especialmente de um típico colono, o personagem Sr. Ricardo, como
sendo vítima do sistema que o fazia explorador, mais inquieto por compreendê-lo
que condená-lo. Escutando Kateb , a gente tinha a sensação de que
nada estava perdido, apesar do começo da guerra, de que tudo poderia se
resolver. Pouco depois, num café, onde alguns amigos se reuniram após o debate,
Kateb continuava a contar sobre o livro, extasiado por seu mundo interior,
pelas criaturas que o possuíam [...] Tive a impressão de que naquele dia um
mundo surgia para mim, cuja estranheza me fascinava. Ele nos mantinha sob seu
charme. Ainda vejo e escuto nitidamente Kateb, a pequena veia batendo nas suas
têmporas, na embriaguez de seu discurso torrencial, se curvando e se sacudindo
de rir:
“Então Si
Mokhtar percorreu as ruas de Constantina com uma mordaça na boca: Vive la France , les Arabes silence.”
Todo absurdo da
guerra da Argélia que apenas começava estava contido nas suas palavras.
Jacqueline Arnaud
La littérature maghrébine de langue
française, 1986 (vol. I, II) –
tradução livre.