"O expresso Constantina-Bona tem o sobressalto do centauro, o soluço da sereia, a graça ofegante da máquina com a energia no limite, rastejando e contorcendo-se no joelho da cidade sempre fugidia na sua lascívia, tardando a desfalecer, agarrada pelos cabelos e confundida na ascensão solar, para acolher do alto estas efusões de locomotiva; as carruagens largam passageiros que, quais bichos indecisos depressa devolvidos ao estado de alerta, dormitam; nenhum levanta a cabeça diante do Deus dos pagãos chegado ao seu quotidiano poder. Meio-dia, reflexão de África com falta de sombra inacessível nudez de continente comedor de impérios, planície repleta de vinho e de tabaco; o meio-dia adormece tanto como um templo, submerge o viajante; meio-dia! acrescenta o relógio, na sua opulência sacerdotal, e a hora parece atrasada com a máquina sob a ventilação das palmeiras, e o comboio depressa perde os seus encantos (...)"
Kateb Yacine
Nedjma
(Tricontinental Editora, 1987)