Pierre Bourdieu |
Mouloud Mammeri |
Mouloud Mammeria - Uma das designações para a poesia
no dialeto cabila é asefru (plural: isefra), que provém
de fru, elucidar, esclarecer uma coisa obscura
(em outros dialetos berberes é um pouco diferente).
Parece-me uma acepção antiga. Em latim,
poema é carmen, que significava, se não me
engano, o sortilégio, a fórmula eficaz, que abre
portas. É o mesmo sentido de asefru e, talvez,
essa concordância não seja puramente acidental
nesses idiomas mediterrânicos, para os quais o
verbo é, de início, um instrumento de elucidação,
que torna as coisas permeáveis à nossa razão.
Pierre Bourdieu. – Fru também significa selecionar o grão?
Seria o poeta, então, aquele que sabe distinguir,
tornar distinto, quem, por seu discernimento, opera
uma diacrisis, separa coisas ordinariamente confundidas?
M. M. – O poeta é quem elucida coisas obscuras.
Diálogo sobre a poesia oral na Cabília,
entrevista de Mouloud Mammeri a Pierre Bourdieu, aqui.