"O pai dorme. (...) Gostaria de o abraçar enquanto dorme, tranquilamente, sem as raparigas me verem. (...) O pai volta-se para o lado esquerdo. Continua a dormir! O pé de um pai diz muito acerca do passado; a deformação de uma unha fala uma linguagem de campanha militar; se o meu pai fosse árabe, teria sido sargento; é verdade, estou no conjuntivo; um excelente aluno, é o que eu sou. (...) O pai sente-se obrigado a dormir para o lado esquerdo. (...) Notará que o abraço enquanto dorme, sempre do lado esquerdo, do lado do bolsinho do colete, onde estão os trocos? O dinheiro não lhe diz nada. (...) O pai dorme. Ressona. Passa pelas brasas. Não está morto. Não há como ele. Para mim nunca levantou a bengala. Só uma vez. (...) Uma só bengala. Mal me tocou. Comecei a chorar."
Kateb Yacine
Nedjma (Tricontinental Editora, 1987)