“Da sua infância nunca pudera captar mais do que fragmentos cada vez mais pequenos, incoerentes, intensos: raios do paraíso devastado pela deflagração das horas, rosário de bombas retardatárias que o céu mantinha suspensas sobre a alegria sempre clandestina, condenada a refugiar-se nos escaninhos do ser mais frágil, a criança sempre empoleirada no seu respiradouro, sempre curiosa do deslumbramento seguido pela dentada da sombra, o medo de ficar prisioneiro do mundo, enquanto outros universos choviam de dia e noite sobre Rachid, adormecido no berço de madeira de choupo, com as janelinhas para respirar, ou ensaiando os primeiros passos sob os aguaceiros (…).”
Kateb Yacine
Nedjma (Tricontinental Editora, 1987)