"Lakhdar acendeu um cigarro, e queimou o retrato; o seu silêncio acabou por precipitar Nedjma, corada e sinistra, para fora do quarto. Quando se lançou em sua perseguição, ouvira-a já abrir a porta da sala onde, colando-se contra a porta, apenas sentiu o arfar insistente do vento. Deu a volta à chave por fora e voltou para o quarto vazio.
Fechados Nedjma e Murad fechados, assobiava o vento em ligeiras rajadas, fustigando a luz eléctrica na atmosfera grávida, extraviando as suas odoríferas imensidões, embatendo contra as portadas, dispersando a floresta em chuvosa resina e o mar em turbilhões decapitados, em dentadas na memória. Lakhdar poisou a chave sobre um livro. «O catecismo do amor». O vento varrera o salão, proscrevera toda a visão, e o turbilhão do sangue não permitia que nenhuma ideia se fixasse, como se a cidade, graças à tempestade, fosse libertada das folhas mortas, como se a própria Nedjma volteasse algures, bruscamente varrida. (...)"
Kateb Yacine
Nedjma Tricontinental Editora (1987) p.213