“O recolhimento
e a sabedoria, isso é bom para os valentes que já combateram. Levantai-vos!
Voltai aos vossos postos, fazei a oração no trabalho. Parai as máquinas do
mundo, se temeis uma explosão; deixai de comer e de dormir durante uns tempos,
agarrai nos vossos filhos pela mão, e fazei uma boa greve-oração, até que
vossos mais modestos desejos sejam satisfeitos. Se tiverdes medo dos polícias,
fazei como os ursos, uma sesta sazonal, com raízes e rapé para aguentardes; eu
compreendo-vos, meus irmãos, é a vossa vez de me compreenderdes; agi como se
Deus estivesse entre nós, como se fosse um desempregado ou um vendedor de
jornais; manifestai, então, a vossa oposição seriamente e sem remorsos; e
quando os senhores deste mundo virem os seus administrados definharem em massa,
com Deus nas suas fileiras, talvez obtenhais justiça; sim, sim, compreendo-vos,
aprovo a vossa presença na mesquita; não se pode sonhar junto das megeras e dos
miúdos, não se pode ser sublime no domicílio conjugal, tem-se necessidade de se
prostrar com desconhecidos, de passar desapercebido na solidão colectiva do
templo; mas vós começais pelo fim; ainda mal sabeis andar e eis-vos ajoelhados;
nem infância nem adolescência, vem imediatamente o casamento, a caserna, o
sermão na mesquita, a garagem da morte lenta.”
Kateb Yacine
Nedjma Tricontinental Editora (1987) p.37