quinta-feira, 22 de agosto de 2013

«Fatma» de M'Hamed Benguettaf, em cena no Teatro Meridional em Lisboa

Sinopse Fatma, a única personagem da peça, é mulher de limpeza num ministério e na Câmara de Argel. Um dia por mês o terraço do prédio onde mora pertence-lhe para estender a roupa. É um dia feliz de total liberdade. Fatma é uma mulher como as outras, que cruzamos na rua sem nada saber do seu destino, dos seus sofrimentos, das suas alegrias. Fatma incarna todas as mulheres do mundo, sufocadas, exploradas, amordaçadas com ou sem véu. 

M'Hamed Benguettaf Autor e ator, figura marcante do teatro argelino, nasceu a 20 de dezembro de 1939 em Argel. Como ator passa grande parte da sua carreira no Teatro Nacional Argelino antes de figurar entre os fundadores da Companhia Masrah el Kalaâ - Teatro da Cidadela no início dos anos 90. Trabalha entretanto intensamente para a rádio. Igualmente tradutor e adaptador de Nazim Hikmet, Kateb Yacine, Ali Salem, Mahmoud Diab ou Ray Bradbury, Benguettaf considera, com esta sua experiência, ter encerrado a primeira grande etapa do seu percurso que compara, segundo os seus próprios termos, a "um estágio de formação profissional em que reúne os instrumentos da sua própria linguagem e forja a partir daí a sua voz de autor dramático". Obtém a bolsa Beaumarchais e faz "residências" em Limoges em 1994, 2002 e 2003. Em junho de 2003 é nomeado diretor do Teatro Nacional Argelino.

Ficha artística
Autor: M’Hamed Benguettaf
Tradução: Mário Jacques
Encenação: Elsa Valentim
Interpretação: Sofia de Portugal
Espaço Cénico-Imagem Gráfica: Aurélio Vasques
Música: Rui Rebelo
Produção Executiva: Anabela Gonçalves
Produção: Teatro dos Aloés

Classificação etária: M/12
Mais informações aqui.

domingo, 11 de agosto de 2013

Henri Alleg 1921-2013


"Um caso particular e peculiar da tortura tem a ver com as humilhações de carácter sexual. Durante a guerra da Argélia nunca ninguém falou disso. A tal ponto que nem eu nem os meus companheiros havíamos falámos. Os oficiais franceses, os militares colonialistas, tão pouco. Do lado argelino também houve um silêncio total devido à cultura de tradição islâmica. Por isso os argelinos mantiveram-se silenciosos quanto ao assunto. Na tradição argelina, e árabe de um modo mais geral, pensa-se que uma mulher violada está humilhada e suja. Não apenas ela, como pessoa individual, mas considera-se que toda a família foi humilhada. Uma destas mulheres argelinas, uma amiga minha, foi violada. Tem agora 72 anos. Contou-me que quando caiu na prisão — tinha então 17 anos — e contou da violação à mãe, que também estava na prisão, esta recomendou-lhe que não contasse a mais ninguém que fora violada. Nem ao pai, nem aos irmãos, nem a ninguém. Ninguém da família ou de fora da família. Que poderia acontecer? Pois, que a rapariga fosse expulsa da família e assim poderia perder absolutamente tudo. Este foi o caso de todas ou quase todas as prisioneiras argelinas em poder dos colonialistas franceses. (...)"

Henri Alleg

«Os Poemas Suspensos» de Imru al-Qais

Imru al-Qais | Trad. Alberto Mussa | Record
Mais informações aqui
"Os poemas dos antigos beduínos são o único caso de literatura antiga que não pertence à civilização, no sentido estrito do termo. Mesmo a poesia chinesa, a literatura do antigo Egito, as epopéias babilônicas, o conjunto das demais literaturas do oriente, tudo é produto das cidades, onde há lei, governos, regras sociais bem definidas que reduzem drasticamente a liberdade individual. Os primitivos árabes viviam à margem da civilização do Oriente Médio (e quando falo em civilização não estou dando ao conceito nenhuma grandeza especial). O deserto é o ambiente mais inóspito para a espécie humana, porque falta água, o bem mais essencial à vida. (...)"
Alberto Mussa 
Tradutor d'Os Poemas Suspensos 
em entrevista aqui.