sábado, 29 de junho de 2013

À primeira vista




Por Jacqueline Arnaud:

Acabava de estourar a insurreição no inverno de 1954-1955, depois dos motins marroquinos e tunisianos que começavam a incendiar a África. Eu e meus amigos acompanhávamos as notícias nos jornais, participávamos de reuniões e manifestações contra a guerra. Em nome do que ainda era para mim anti-racismo abstrato, baseado no anti-colonialismo fundamentado em fatos contados e vividos na Indochina por pessoas que admirava.  
Então, numa noite desse mesmo inverno, meus amigos me levaram ao Collège Philosophique onde acontecia uma conferência-debate reunindo vários escritores magrebinos: Albert Memmi, Driss Chraïbi, Kateb Yacine. Este último, desconhecido fora de uma pequena roda, entusiasmado com o romance que acabava de escrever, Nedjma, falava alto, especialmente de um típico colono, o personagem Sr. Ricardo, como sendo vítima do sistema que o fazia explorador, mais inquieto por compreendê-lo que condená-lo. Escutando Kateb, a gente tinha a sensação de que nada estava perdido, apesar do começo da guerra, de que tudo poderia se resolver. Pouco depois, num café, onde alguns amigos se reuniram após o debate, Kateb continuava a contar sobre o livro, extasiado por seu mundo interior, pelas criaturas que o possuíam [...]  Tive a impressão de que naquele dia um mundo surgia para mim, cuja estranheza me fascinava. Ele nos mantinha sob seu charme. Ainda vejo e escuto nitidamente Kateb, a pequena veia batendo nas suas têmporas, na embriaguez de seu discurso torrencial, se curvando e se sacudindo de rir:

“Então Si Mokhtar percorreu as ruas de Constantina com uma mordaça na boca: Vive la France, les Arabes silence.”   

Todo absurdo da guerra da Argélia que apenas começava estava contido nas suas palavras.

Jacqueline Arnaud

La littérature maghrébine de langue française, 1986 (vol. I, II)  – tradução livre.

Kateb Yacine - كاتب ياسين

domingo, 23 de junho de 2013

A literatura magrebina de língua francesa

Alguns escritores magrebinos foram alfabetizados na língua francesa desde a tenra idade e, aprendendo a jogar com a língua do colonizador, transformaram-na em instrumento de luta e reivindicação identitária. Ao se apropriarem do francês e se expressarem efetivamente nessa língua, não deixaram de mencionar a cisão psíquica e o mal-estar profundo que essa vivência lhes causou. Submetidos ao sistema de ensino europeu desde cedo, deparavam-se com o bilinguismo colonial e suas consequências. Mais de um século após o início da colonização francesa (1830), sofriam suas influências irreversíveis e, através de questões existenciais, faziam um balanço por um viés histórico, psicológico e até mesmo psicanalítico: “ ‘Qui suis-je, moi, Nord-Africain, colonisé’ dans le monde, parmi les miens, par rapport aux autres? ”[1] Indagação simples, sobre um princípio existencial do homem. No entanto, não obtiveram resposta tão cedo; esta exigiria o nascimento de um novo Magreb.  



[1] " 'Quem sou eu, norte-africano, colonizado' no mundo, entre os meus, em relação aos outros?" (Déjeux, 1980, p.42).

sábado, 8 de junho de 2013

Literatura argelina

"La littérature algérienne, ce n’est pas Camus."

Kateb Yacine